sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Em pleno século XXI

Sabem aquela imaginação colectiva que achava que quando chegássemos ao século XXI já não íamos usar carros mas pequenas naves e teríamos robots como empregados domésticos? Pois, é verdade que a realidade não se mostrou, nem um bocadinho, tão interessante como a ficção, mas nada me fazia esperar uma realidade com a qual me deparei hoje.

No exercício das minhas funções, hoje fui visitar duas das escolas do primeiro ciclo da Ramada, depois da abertura do novo ano lectivo.

A primeira que fomos visitar foi a escola Eça de Queirós. Um pequeno enquadramento: esta escola foi inaugurada no dia 14 de Fevereiro deste ano, depois da antiga ter sido demolida em 2008 e as crianças terem estado 2 anos lectivos e meio em contentores. De facto a escola está linda, muito acolhedora, com uns acabamentos fantásticos. Diz-nos a coordenadora da escola: "só é chato porque temos de ir fazer impressões e fotocópias à sede de agrupamento, porque não temos luz".

"Não têm luz?! Como não têm luz?" - foi o que perguntei de imediato.

Pois é, esta escola desde sexta-feira da semana passada (há uma semana exactamente) que está sem energia eléctrica, porque a EDP foi lá sem aviso (pelo menos sem que a escola tivesse recebido esse aviso, será que alguém foi avisado?) e simplesmente cortou a luz à escola.

Não há luz (e há casas-de-banho interiores), não há telefones, não há frigorífico nem micro-ondas. Nem computador nem impressora. E felizmente que estes dias voltou o bom tempo e que o sol tem estado forte o suficiente para iluminar as salas.

Disse-nos também que a Câmara está a tratar. Mas nestes casos não se pode "tratar", tem que se resolver com uma urgência sobre-humana, porque estamos a falar do bem estar de dezenas de crianças de jardim de infância e primeiro ciclo. Não se pode ir resolvendo, tem que se tornar estes casos na principal prioridade. Ou se calhar já se devia ter pensado há mais tempo (desde Fevereiro) em mudar o contador de obra por um definitivo.

Ou se calhar alguém achou graça ao anúncio do Meo. Temos box, mas não temos energia eléctrica, então imaginamos. Aquelas crianças também podem imaginar que comem comida quente ao almoço.

Só para piorar, perguntei eu na primeira sala que vimos de que ano eram aqueles meninos. Eram de 1º e 2º ano. Sim, na mesma sala. E na do lado estavam os do 3º e 4º. Sim, em 2011, numa escola nova cheia de salas, as crianças estão a ter aulas com outras de outro nível de aprendizagem, da mesma forma que estavam quando só tinham uma escola pequenina com duas salas.

Da outra nem falo. Foi encerrada a escola do primeiro ciclo e agora é só jardim de infância. Sabem porquê que foi encerrada? Porque em cada sala estavam dois níveis diferentes. Que coerência, não é? Mas estes afinal ainda têm uma sala fechada, porque ainda não há educadora, e por isso os meninos estão em casa. Ou sei lá onde. De qualquer forma apesar do jardim de infância ter aberto na quarta-feira ainda hoje não tem mesas e cadeiras para sentar os que lá estão.

Que falta de respeito pelas nossas crianças. De facto isto espelha bem o estado das coisas no nosso país. O país onde o primeiro-ministro afirma, sem qualquer pudor, que é preciso cortar na educação, na saúde e nos apoios sociais.

Ah...

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