sexta-feira, 15 de março de 2013

Na semana em que é eleito o novo Papa

Precisa-se: evangelizador

por Ricardo Araújo Pereira
Quinta feira, 21 de Fevereiro de 2013


De acordo com os jornais italianos, é provável que o próximo Papa venha de um país do Terceiro Mundo. Cardeais portugueses podem finalmente sonhar


Percebemos que um líder religioso é, de facto, inspirador quando as suas atitudes infundem esperança até nos incréus. É o que acontece com Bento XVI, cuja resignação traz um pouco de ânimo não só a ateus como eu mas, pareceme, a portugueses de todos os credos.

Em primeiro lugar, há a questão da sucessão. De acordo com os jornais italianos, é provável que o próximo Papa venha de um país do Terceiro Mundo. Os cardeais portugueses podem finalmente sonhar. Será desta? A hipótese de haver um português como chefe de Estado de um país rico é muito rara, e excelente para Portugal embora péssima para o país em questão, como a história parece indicar.

Em segundo lugar, é muito importante não esquecer que o Papa é um exemplo a seguir por todos os católicos. Ora, Bento XVI acaba de renunciar ao seu cargo por se sentir cansado e fisicamente fraco. Portanto, a pergunta que todos fazemos, com uma ansiedade muito devota, é: será Vítor Gaspar católico? Deus queira que sim. Gaspar também parece cansado. Ninguém tem olheiras tão fundas se anda a descansar o suficiente.

E aparenta estar fisicamente fraco.

É manifesto que lhe custa falar. Aquele tom pausado é o mesmo com que, nos filmes, os moribundos dão recados importantes aos amigos e à família. Nas mesmas condições, o Papa renunciou.

É certo que Vítor Gaspar tem o auxílio da troika, ao passo que o Papa tem o auxílio de Deus. Concedo que o ajudante do ministro é ligeiramente mais poderoso.

Mas, ainda assim, os casos são muito semelhantes. Se Gaspar fosse católico, creio que não teria outro remédio senão seguir as pisadas do Santo Padre.

Aquilo de que Portugal precisa é de um pregador persuasivo. Um homem que, munido de uma bíblia ou duas, vá evangelizar para o Ministério das Finanças como durante os descobrimentos outros sacerdotes iam evangelizar para o Brasil. Sabendo que irá provavelmente encontrar mais selvagens do que os seus antepassados encontraram em terras de Vera Cruz. Sabendo que o espera uma tarefa muito difícil, porque Vítor Gaspar já tem religião conhecida: professa uma fé absolutamente cega nos mercados, e por isso talvez tivesse de começar por ser politeísta. O pregador terá de ser alguém suficientemente versado em economia para se fazer entender junto de Vítor Gaspar, e suficientemente devoto para o converter ao catolicismo. Convinha que fosse ao mesmo tempo um economista experimentado e um fanático religioso.

Nunca pensei dizer isto, mas Portugal precisa de João César das Neves.

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