segunda-feira, 14 de março de 2011

Sobre crianças na televisão

Muito, mas mesmo muito, pode ser dito sobre crianças na televisão. Sobre a discussão do que é ou não trabalho infantil, da sua legitimidade moral.

Mas o assunto hoje é mais concreto: é sobre concursos de talentos para crianças.


Em primeiro lugar, parece-me muito pouco saudável as expectativas que são construídas à volta destes programas. Os que perdem (que são quase a totalidade das crianças que lá vão, se pensarmos que no fim só ganha um) saem dali tão emocionalmente arrasados, como se tivesse ficado assim provado que são péssimos e não servem para nada. A tristeza daquelas crianças ao ver um sonho (construído e alimentado por quem, pergunto) destruído, não pode ser compensada pela felicidade do que ganha. Depois, a exposição mediática a que são sujeitas as crianças (e toda a sua família), e que vêem a sua vida exposta, normalmente aos detalhes mais sórdidos, na televisão e na dita imprensa cor-de-rosa, presos a contratos que os obrigam a isso. É assim que queremos educar as nossas crianças?

A segunda razão foi de facto o que chamou à atenção ontem. Estava a ver televisão fora de casa, e fazia-se zapping entre o "Portugal tem talento" da SIC e o programa da TVI, um concurso com crianças a cantar. Era seguramente 0h30 quando me vim embora, e as ditas crianças continuavam alegremente a desputar o seu lugar ao sol. Na SIC, alguns adolescentes e crianças compunham tanto o leque de concorrentes como de espectadores (este já tinha terminado). Na TVI, todos os concorrentes são crianças e muitas outras enchiam as bancadas do público.

Programas com crianças no domingo à noite?! E é meia-noite e elas ainda lá continuam?!

Devo depreender que nenhum terá ido à escola hoje de manhã, e se foi duvido muito que com alguma atenção ao que por lá se passe.
Não me parece nada que estes programas (em directo) devessem ser à noite e muito menos a um domingo, véspera de dia de aulas. Fazia sentido que estes programas fossem, por exemplo, ao sábado à tarde. Mas isso não daria audiências, pois não?

E quanto aos miúdos? Que a TVI só se preocupe com o seu share, eu percebo (embora não aceite), mas e os pais? Será o ímpeto de ter um filho famoso, ou de preencher um vazio qualquer no seu percurso são assim tão mais importantes?

Para reflectir.

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