segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Estou à procura de uma família


Olá,

Sou uma gatinha (na verdade ACHO que sou uma gatinha) muito simpática e querida. O que eu queria mesmo era arranjar uma família que tome conta de mim e a quem eu possa dar beijinhos e turrinhas.

Há umas semanas que vivo na Praceta João Villaret, na Ramada. Ando muito carente de afeto, mas felizmente os vizinhos têm me mantido alimentada.

Sou tão fofinha que só posso ter sido abandonada. De certeza que já tive um lar cheio de mimos, mas por alguma razão ando na rua e por isso sinto-me muito triste. Quando vejo gente na rua que me trata bem, começo logo a dar turrinhas e beijinhos, e gosto muito de dar a minha barriga para que me façam festinhas.

Sou toda creme, tenho a cauda escura e dou um certo ar de siamesa, apesar de quem me tirou estas fotografias perceber pouco de raças.

Neste momento, para além de muito mimo, precisava mesmo era de um banho e naturalmente de uma visita ao médico, para ver se está tudo bem comigo.

Ajudem-me a encontrar uma família. Se puderes ficar comigo prometo dar-te todo o meu amor.
Se não puderes, por favor espalha esta mensagem até que alguém o possa fazer.

Ficarei agradecida para sempre!







sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Uma Constituição madrasta e madraça

por Ricardo Araújo Pereira, Crónica publicada na VISÃO 1070, de 5 de setembro

Talvez seja abusivo dizer que o programa de Governo fez muito pelos desempregados. É mais correcto dizer que fez muitos desempregados


Aconteceu esta semana, na praia, mesmo à minha frente. Um desempregado estava a nadar e foi apanhado por uma onda. Começou a gritar por auxílio mas nenhum dos outros banhistas o acudiu, fosse por medo ou por desejo de contribuir para a diminuição dos números do desemprego (era o meu caso, pois sou ao mesmo tempo corajoso e patriota). Foi então que o artigo 227 da Constituição da República Portuguesa se lançou ao mar. Parecia um polvo, a nadar vigorosamente com as 22 alíneas do seu ponto número 1. Puxou o homem para a margem e reanimou-o - para surpresa de todos, não só porque nunca tínhamos visto a Constituição fazer fosse o que fosse pelos desempregados, mas também porque não esperávamos que a iniciativa partisse do artigo consagrado aos poderes das regiões autónomas.

O leitor mais perspicaz já estará desconfiado de que o que acabo de relatar talvez seja ligeiramente fantasioso. Tem razão. Havia um desempregado a afogar-se, de facto, mas não foi a Constituição que o salvou, como é evidente. Foi o programa do Governo, o que, aliás, não surpreende. O programa do Governo fez mais pelos desempregados em dois anos do que a Constituição em 37. Ou talvez seja abusivo dizer que o programa de Governo fez muito pelos desempregados. É mais correcto dizer que fez muitos desempregados. Mas é quase a mesma coisa.

O fundamental é reconhecer que Passos Coelho tem razão: a Constituição nunca fez nada pelos desempregados. São 296 artigos e mais um preâmbulo de pura preguiça. É uma Constituição que não cria, não inova, não pratica o empreendedorismo. Não faz sequer pequenos biscates, nem tarefas domésticas. A Constituição nunca me lavou a loiça, nem me fez a cama. Embora, diga-se, pareça muito empenhada em fazer a cama ao primeiro-ministro.

Eu não sou constitucionalista, mas admito que Passos Coelho saiba do que fala. A Constituição foi aprovada com os votos favoráveis do PSD. Jorge Miranda, considerado o pai da Constituição (e, sem desprimor para Bacelar Gouveia, também o único constitucionalista português que parece ter sido desenhado pelo autor dos Simpsons), era deputado à constituinte pelo PSD. E todas as revisões constitucionais foram aprovadas com os votos favoráveis do PSD. Na qualidade de presidente do PSD, é natural que Passos Coelho conheça bem o tipo de texto que o seu partido concebe e aprova para melhorar a vida dos desempregados.

FONTE